Pablo
Há algum tempo
venho criticando a atitude de minha irmã mais nova. Ela tem doze
anos, mas ainda se fecha em alguns incompreensíveis comportamentos
infantis, como pirraças e a estranha forma de tratar os meninos como
extraterrestres. Uma vez que eu sempre tive mais amigos que amigas,
essas atitudes me parecem muito esquisitas.
Outra coisa de que
sempre reclamo é a falta de familiaridade da pequena com livros, o
que eu, como leitora inveterada desde os 4 anos de idade, considero
um insulto pessoal. Ela já está no segundo livro da semana, então
esse assunto eu posso descartar por um tempo, mas a infantilidade
ainda me irritava profundamente. Até ontem.
Temos 3 vizinhos
novos no prédio e, embora estejamos nos reunindo para comemorar o
Natal, ainda não conhecemos todos. Isso inclui nossos únicos
vizinhos de andar que, até ontem, chamávamos de “os italianos”
porque – adivinhem- eles falam italiano.
O único vislumbre
de comunicação com eles acontecia quando minha irmã e meu pai se
divertiam observando a carinha medrosa do gato deles na nossa janela,
se escondendo assim que os via, mas voltando a olhar devagarzinho,
curioso.
Bem, acontece que
anteontem à noite, enquanto meu pai levantava para tentar fazer algo
em relação aos mosquitos que parecem querer devorar os branquelos
como ele, viu um vulto na sala. Chegando mais perto, percebeu que era
o tal gatinho. Tentou atrair o bichano, mas esse fugia, com medo.
Míope convicto,
meu pai resolveu buscar os óculos para tentar pegar o bichinho mas,
quando voltou à sala, ouviu um barulho e o dito cujo não estava
mais lá. Correndo até a janela, por pensar que o gato havia caído,
meu pai até olhou para baixo (moramos no terceiro andar), mas não o
viu. Presumiu, então, que o bichano havia voltado pra casa.
No dia seguinte,
recebemos a visita desesperada da dona do gatinho (Pablo é seu nome
- nome do gato, não da dona), perguntando se havíamos visto o
bichano. Procuramos em vão aqui em casa e minha irmã, como toda
criança que se preza, se ofereceu para ajudar a procurá-lo no
térreo.
Com a oportuna
informação de que o bichano só entendia italiano, saíram (minha
irmã, a dona e o filho) a gritar Andiamo, Pablo, sem nenhuma
resposta. Minha irmã chegou a propor a procura no pequeno
compartimento embaixo das escadas do prédio, mas o porteiro afirmou
que o gato não poderia passar pela porta.
Ao voltar, sem
achar nem sinal do bichinho, minha irmã veio ralhar comigo por não
ajudar a procurar, o que eu retruquei dizendo que havia ajudado a
procurar aqui em casa, embora soubesse que ele não estava aqui.
A essa afirmação
de incredulidade, a pequena disse: “ Mas assim você nunca ia
achar, sabendo que ele não estava! Você tem que procurar querendo
que ele esteja lá!!”
Ouch!
Depois dessa
bronca muito bem dada pela pequena, resolvi pedir a Deus (querendo
que ele atendesse) que o Pablo fosse encontrado.De qualquer maneira,
pensei, ele já fez o que tinha que fazer, nos apresentou a nossos
vizinhos...Agora Você pode deixá-lo voltar, ok?
Hoje de manhã, ao
sair de casa, perguntei ao porteiro se haviam achado o gatinho. Ele
disse que sim, o bichano havia se escondido no cômodo sugerido pela
pequena. Eu sorri de lado e aprendi duas lições muito importantes.
Que pedir só
funciona se você acreditar que vai ser atendido.
E que
infantilidade não é tão ruim assim.
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