sábado, 28 de novembro de 2015

De um infante assustado com o Mestrado



"De tempos em tempos, o indivíduo fica bloqueado numa situação em que uma espécie de hiato cognitivo impede o movimento: o sentido interior do indivíduo esgotou-se e agora ele precisa de criar novo sentido. Então, essa pessoa procura e escolhe estratégias que façam a ponto sobre o hiato cognitivo, que procurem respostas a perguntas. Finalmente, os indivíduos usam as pontes cognitivas que construíram para continuarem suas jornadas " 
Dervin, 1992 apud Choo, Gestão da Informação para a Organização Inteligente, 2003


         Encontrei essa frase num texto que estaa lendo para o mestrado, e não pude evitar suspender o estudo por um momento e vir aqui explicar como eu passei as últimas semanas me sentindo exatamente esse indivíduo em hiato cognitivo.

         O segundo semestre do mestrado veio cheio de uma liberdade diferente (apenas um dia de aulas na semana) e também uma responsabilidade que assusta (a famosa "Autonomia do Estudande de Pós-Graduação"). De início, pareceu maravilhoso poder escolher onde passar meus dias, visitar parentes e binge watch todas as minhas séries pendentes. Mas, conforme o tempo foi passando, comecei a perceber que as únicas atividades realmente relevantes que eu estava fazendo no mestrado eram os resumos e fichamentos pedidos pelos professores - muitas vezes, na véspera da aula.
         Crianças, não façam isso em casa!


         Quanto mais tempo em passava me "divertindo" com outras coisas, ou procrastinando descaradamente, mais eu me sentia preocupada com a pesquisa acumulada sempre dando alertas e surgindo em pensamentos aleatórios. Mas eu não tinha a menor vontade de começar a escrever.
         Foi aí que eu li um artigo sobre a grande ocorrencia de Mental breakdowns em estudantes de mestrado e doutourado, e uma tal de Sindorme da Farsa, em que a o estudante tem a sensação de não estar se dedicando tanto ou ser tão inteligente quanto seus pares. E era um pouco parecido com o que eu estava sentindo.
        No dia seguinte, acabei conversando com uns colegas doutourandos e eles me disseram que também sentiram o mesmo no mestrado, e mesmo no doutourado. Que o mestrado é um baque de mudança de visões e percepções e de estudo, e que isso desconforta, desconstrói, assusta mesmo, é normal. Gostaria que tivessem me contado antes.
        A experiência do estrado tem sido um pouco estranha pra mi, no sentido de ter que entender como a minha mente - e corpo- se adaptam ao estudo, a uma casa nova, com gente nova (divido apartamento com mais 3 garotas) e um estado novo  velho.
         Nessa conversa, acabei encontrando uma metáfora que define como eu estava me sentindo.

       Senta, que lá vem metáfora!



          Recentemente, nasceu minha afilhada. Ela tem 2 meses e nas primeiras semanas, ela acordava assustada com certa frequencia. Com o tempo, percebemos que ela tinha o costume de esticar os braços e pernas durante o sono e, por ser muito pequenina para o berço, acabava não encontrando barreira nenhuma (como na barriga), e a total liberdade espacial a assustava.
        O mestrado me fez sentir como essa bebê. As fronteiras do pensamento dos meus professores como guia - e ate mesmo- doutrinador dos meus pensamentos se foi. Meu estudo não tem mais hora certa de aulas ou intervalos de classe, os prazos são mais soltos e cabe a mim elaborá-los na maior parte do tempo. E essa liberdade repentina me assusta, me tira o chão, me faz acordar assustada, sentindo falta do conforto do útero da universidade.

      Mas acho que agora, como sei como me sinto, posso começar a construir as pontes que vão me levar a preencher esse hiato cognitivo e me permitir voltar à minha pesquisa com tranquilidade. Meus bracinhos pequenos estão se acostumando com meu berço grande.