terça-feira, 7 de junho de 2011

Do que achamos sobre nossa escrita


"Muitos sabios com effeito authorisão com o seu voto esta genuina conclusão,
e sem ambiguidade alguma põem o rico apar do Nobre.
Horacio, fazendo-se lugar entre os mesmos, he talvez dos primeiros em dizer,
que qualquer homem em sendo rico já he illustre, sábio, e valeroso.
[…] S. Jeronymo, defnindo a Nobreza do Mundo, assevera,
que ella não he mais que huma inveterada riqueza.
Aristoteles escreve igualmente,
que a Nobreza he huma antiga opulência, e virtude. "

Estudando para a faculdade, me deparei com esse trecho, que me fez voltar a um dos assuntos que martelei pra mim mesma no período em que o Novo Acordo Ortográfico fervilhou por aqui.

Isso e a constante implicância com o jargão internáutico, o afamado "futuro da língua de uma nação de abreviaturas incompreensíveis" me fizeram escrever, enfim.

Lembro-me da época em que comecei a me interessar por Machado, retirando todas as obras que podia do acervo da biblioteca da escola. (Tudo bem, não faz TANTO tempo assim).
Deparei-me com uma escrita que me fez pensar em erro de digitação, depois em erro de edição, para só depois perceber que, Epa, nessa época a galera escrevia assim!

Daí comecei a me perguntar com que risadas de incredulidade e muxoxo Machado e seu contemporâneos receberam a queda do acento circunflexo e dos dois eles em "êlle". Deviam pensar, irritados como alguns de nós há pouco tempo, que tal mudança absurda era desnecessária e causaria confusão com a pronúncia correta.

Bom, eu nunca tive tal dificuldade. XD

Mas não é simplesmente do apego ao passado que eu vim falar hoje.
O trecho de hoje me fez levar a discussão a um outro ângulo: o dos ansiosos tanto em acatar as mudanças do Acordo quanto em propor mudanças eles mesmos.
Isso aí, os adolescentes internáuticos.

Que sua linguagem é confusa já foi dito, e não me cabe aqui repetir frases feitas.
Até porque eu sempre me comuniquei muito bem com meus vcs e pq's, e inclusive com o meu xodó pouco conhecido, o ctg (contigo), que por vezes me custava algumas linhas de explicação.

Pensei, então, no certo tipo de orgulho que os adolescente demonstram (eu, inclusive) em ser fluentes nessa linguagem que alguns diriam preguiçosa, e que eu chamo de direta.

Detesto cortar o barato dos defensores do internetês, mas cortar vogais não é nosso privilégio, nem fomos os primeiros a utilizar desse método. Aliás, certas linguagens da antiguidade nem ao menos possuíam isso que chamamos de vogais na variação escrita.
Seus manuscritos continham apenas as consoantes das palavras, que eram completadas e preenchidas de vogais pelo leitor, o que acarretava constantes erros de interpretação, mas funcionava.

Evitar o uso do acento também não foi criação nossa. Como podemos ver no texto acima, o nosso eh (variação de é) não passa de mera inversão do "he" que já usavam bem antes de pensarmos em ser óvulos.

Nem mesmo as abreviações são privilégio nosso...
Vale relembrar o tão conhecido Vossa Mercê, nosso querido você, ou vc.

Enfim, pra terminar, queridos defensores das mudanças e da escrita que evolui com as nova gerações, saibam (saibamos) que somos meros perpetuadores de um movimento que vem acontecendo desde muito antes de nascermos.

Seriamos, então, tradicionalistas apegados ao costume de mudar a língua, ao invés de revolucionários quebradores das regras escritas...

Nenhum comentário:

Postar um comentário