O vento ondula o azul.
No topo de onde meu olhar alcança, a cor tremula em uma dança suave, de movimentos por vezes calmos outras erráticos. O ar ao redor canta. Sua voz se espreme entre as frestas que encontra e faz dueto com um outro som, mais grave, ritmado, constante.
O segundo som vem mais de perto, parece que sussurra só pra mim, no meu ouvido, um murmurar rouco de profundezas distantes. Baixo o olhar.
Mais perto, vejo mais que o azul. São dunas de cor de baunilha, quase capazes de refletir o sol filtrado pelo azul. Suas curvas são suaves e a textura delicada, como dobras de um tecido esculpidas em mármore. Tenho vontade de correr os dedos pelas curvas, mas me refreio quando o murmúrio aumenta de intensidade.
Devo ficar imóvel. Faço de tudo para não perturbar a paisagem.
As dunas se movem elegantemente, alheias à minha presença. Mal sabem que as observo. O som se esvai.
Sinto um novo tremor, dessa vez um rugido que parece vir de dentro de mim. E vem. Suspiro.
É preciso deixar esse lugar. Resigno-me.
A manhã termina e a fome me faz levantar da cama, um último olhar para o marido que ainda dorme, fecho as cortinas improvisadas com o lençol azul para que o sol não o perturbe. Uma nova paisagem se desdobra: levanto para fazer o café.
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