A
verdadeira razão dos poemas
Dizem que os poetas -e, por extensão,
os escritores- são movidos pela intensidade da dor que sentem ao escrever.Eu
concordo.Sem a melancolia, a tristeza, os mais belos poemas do mundo seriam
meros versos varridos pelo tempo. Passados, esquecidos.
Há, porém, dois tipos de tristeza no
coração do escritor- bem sei eu, posto que o sou. A primeira é a mais
conhecida, aguda tristeza que dói nos olhos, garganta, coração...Aquela que
formiga os dedos e atrai o lápis à mão.A tristeza que nos impele a escrever,
transpassar a dor e tornarmo-nos imortais, ou simplesmente admirados por alguns
amigos, que nem toda dor é tão intensa e nem todo escrito é eterno.
A segunda, talvez menos conhecida,
entretanto não menos real , é a dor que nos faz ler. Grave,
profunda, devasta o peito, deixando-o vazio. Não derrama lágrimas, é muda e
soturna, fria. É quando sentem tal tristeza, que os escritores mudam de lado.
Procuram nas palavras alheias- ou nas próprias, quem sabe?-um conforto.
Palavras que definam o que acontece, no momento em que os dedos falham e o
lápis desaparece.
Nesses momentos em que a dor não
cria, apagados e meramente mortais, a razão da escrita se mostra, nua e clara.
Não, nós não escrevemos para nos expressar.Não escrevemos para os leitores, nem
ao menos para virar imortais.
Escrevemos para nós mesmos, para
quando precisarmos beber dessa fonte que jorra do peito de cada poeta,
escritor,compositor.
E as palavras nos servem, doces,
amargas, em todos os momentos e em cada tipo de tristeza...infinitamente.